Quando eu escolhi Vancouver – na verdade meus pais escolheram – não fazia idéia de que os jogos olímpicos de inverno estavam chegando. E quando descobri, através da internet, não sabia a proporção do evento. Só resolvi estender meu intercâmbio ao ver que The All American Rejects iria estar presente, mas essa história vocês já conhecem. Entretanto, eu mudei nessas últimas semanas. O Winter Olympics Games é um evento enorme, com uma série de atividades e jogos e o espírito que invade nossas mentes e corações não tem descrição. É claro que duas moedas tem dois lados, o dinheiro que se gasta em um evento dessa proporção é enorme e na maioria das vezes poderia ter sido usado para melhorar os setores que são teoricamente deveres do Estado, como saúde, educação e o maior problema de Vancouver: falta de moradia (homeless). É verdade que a economia ganha com o aumento do turismo, mas são apenas alguns setores, enquanto outros ficam subjulgados. Antes de os jogos começarem, eu enchia o pulmão para discurssar sobre a falta de responsabilidade social do governo canadense – embora se saiba que a assistênia social do Canadá é imcomparavelmente melhor que a do Brasil –, e até mesmo do brasileiro, sempre enfatizando os aspectos negativos da Copa. Todavia, sempre é muito mais fácil falar. No momento em que a tocha passou, flamejando em frente ás cabeças e câmeras de diversas pessoas numa rua West Pender lotada, minha mente esvaziou-se completamente de argumentos socio-políticos. Isso porque, o espírito olimpíco nos invadiu como um vento gélido porém confortável de inverno como quem anuncia neve, que é sinônimo de não ter aula. A cidade logo se encheu de europeus e canadenses de outros lugares como Montreal, Quebec e a minha odiada Toronto. Não se via mais tantos asiáticos como outroras, e por todo lugar disparava-se um flash, ou ouvia-se um grito de comemoração. Big Screens nas ruas mais agitadas e um festival de cores na Robson Square. Tirolesa de graça. Bandas tocando suas músicas por todo lugar. Music everywhere. Art everywhere. Bandeiras do Canadá espalhadas nas janelas, nas portas, nos muros. Nos letreiros dos ônibus: “Go, Canada, Go”. A cidade parecia em festa. E realmente era uma grande celebração. Estava eu andando pela Granville com meus amigos brasileiros – Granville Street é minha rua favorita em todo o mundo, não só porque contém as melhores boates e os bares mais famosos, mas também porque fica inluminada e lotada a noite inteira – quando vimos um grupo de pessoas gritando e balançando as bandeiras. O Canadá ganhara a primeira medalha de ouro e as ruas estavam em completa euforia. Nos juntamos, cantamos até uma parte do Hino, a única parte que sabemos: “O Canada”. De repente, alguém perguntou “Where are you from?” Respondemos juntos: “Brasil”. E então todos começaram a gritar juntos: “BRASIL, BRASIL”, e um português falou no auto-falante os nomes de alguns jogadores da seleção brasileira. Todos amam o Brasil, e odeiam os países árabes e os EUA, claro. Inclusive nesse dia, sempre que passava um estaduniense, alguém gritava “USucks”, e todos acompanhavam. Normalmente, eu acharia uma falta de respeito, mas nesse caso eles merecem. Não existem pessoas – e é claro que eu estou generalizando – mais rudes e antipáticas que os estadunienses. Desde que eles chegaram em Vancouver, mostraram sinais de completo desrespeito, principalmente quando ganhavam alguma medalha – e foram muitas. Nessa hora, todas as nacionalidades se juntavam em uma mistura de desprezo pelos Estados Unidos da América. Indianos, coreanos, brasileiros, todos em volta da bandeira com a Maple Leaf, gritando pelo Canadá. E foi isso que o Canadá representou para mim, embora a realidade em algumas cidades sejam bem diferentes, Vancouver mostrou que a diversidade pode existir sem o preconceito – embora todos sejam preconceituosos sobre os EUA (risos). Naquela hora, olhando a bandeira do Canadá sendo levantada e balançada e mais de cinquenta pessoas ao redor gritando juntas, diversas nacionalidades unidas, estendendo um único hino, eu me rendi ao Canadá. Nos dias seguintes, levava minha bandeira pendurada. E não, nunca esqueci que eu sou brasileira, mas como nós não temos time de Hockey, eu torci pelo Canadá. O pub estava lotado e interessante notar que nós brasileiros gritávamos mais do que os canadenseses. Let’s go Canada, let’s Go! – palmas. Isso porque Vancouver representara uma vida para nós. Longe de casa, e tão perto do lar simultaneamente. Depois da vitória apertada contra a Suíça – e devo abrir um parentêse para dizer que as pessoas mais legais, educadas, abertas que conheci aqui eram da Switzerland, inclusive meu querido amigo Dario, que eu conheci no ônibus – fomos para a Granville Street. Fomos cantando músicas brasileiras horríveis, já que ninguém ia entender mesmo. E os meninos ensinaram as canadenses a falarem “foda-se Canadá”, fazendo com que elas pensassem que estavam dizendo “Go Canada” em português. Muitos perguntavam se as assinaturas na minha bandeira era de um time de Hockey. “No,” eu dizia “so much important... my friends from school”. Teve até um canadense que quis assinar, ele colocou o número do celular dele, um coração e um nome: Cody. Eu ri. E assim se passaram os últimos dias, andando pela Granville, making friends, gritando, torcendo, carregando a bandeira. Ao parar o ônibus, o motorista estava dando os avisos, quando disse “and...” pausa “go canada!!!”. As pessoas foram ao delírio. E eu me despedi de Vancouver como quem diz adeus ao melhor amigo. A maioria das pessoas pode dizer que eu tenho uma visão apenas parcial sobre tudo e isso é verdade. Minhas duas homestays eram excelentes, fiz muitos amigos e passei afinal apenas 6 semanas. Não tive problemas sérios de saúde, não precisei buscar moradia, em outras palavras não fui uma real “moradora” – há quem diga que tudo para turista é ok. – então não posso defender a cidade com argumentos baseados em evidencias sérias. Não passei fome, nem muito frio, nem precisei pedir dinheiro na rua – algumas coisas que certas pessoas precisam fazer todos os dias. Mas de uma pequena coisa eu tenho certeza: tudo depende de como você vê as coisas. Tem gente que pode estar na cidade mais maravilhosa do mundo e vai achar horrível do mesmo jeito. Meus amigos do Sul só reclamavam. Sinceramente, não acredito que alguma cidade no Brasil possa ser melhor que Vancouver em termos de organização e sistema público de transporte, e olhe que Brasília é uma cópia mal feita – mas eu amo Brasília mesmo assim. Minha visão pode ser parcial, mas ela é tudo o que eu tenho. E é a única coisa que não podem tirar de mim, nem mesmo a Alfândega. Eu sei muito bem o que eu vivi, e espero não ter que receber julgamentos. Vancouver foi muito mais que um lugar, foi um lar, a recepção foi incrível, e o Canadá se tornou uma segunda casa. Ainda gosto mais do Brasil, principalmente em termos de comida e pessoas, e dificilmente foi gostar de outro país mais que o meu, mas vou guardar com carinho todas as lembranças dessas férias de verão que eu passei no inverno.
As flores estavam aparecendo quando eu deixei Vancouver. Aqui em Toronto, a neve continua descendo em tempestades, e no Brasil deve estar fazendo um sol daqueles. Sinto falta de quando todo dia o Dario dizia “Hey Nay”, e eu tinha que virar para escutar ele falar “Have a nice day”, no cruzamento da esquina. Sinto falta de ouvir as aventuras do Camilo, que apesar de ter apenas 17 anos entrava em todas as festas e bebia muito mais que eu. Sinto falta de ver o Dustin usar o GPS e mesmo assim não saber onde está. E dos desenhos dele. Sinto falta de andar com o Thiago e a Júlia por todos os lugares, do jeito que ele era protetor e da forma que ela era a pessoa mais animada que eu conheci, uma amiga para todas as horas. Sinto falta dos teenagers, sempre gritando pelas esquinas da Granville, procurando o que fazer, porque não se entra em lugar nenhum com menos de 19 anos. Da fake ID horrorosa da Bárbara que era maior que um IPOD. Da melhor professora de inglês do mundo. Do japonês que não gostava de abraços. Da inteligência do Emil. Da animação da Camila e dos atrasos do Nilton. Das brincadeiras do Oskan. De aprender a falar turco com o Alper. Do Neo, que na verdade se chama Song Tai Huang. Da doçura da Pryia e até mesmo do chorão do Kyle. Do meu novo hostbrother brasileiro e do Jackie chan. Do transporte público. Das festas de todas as Sextas. Da risada do Victor. De andar de mãos dadas com o Anthonie, apesar de ele segurar minha mão de um jeito muito estranho – a little bit cold. Do sotaque neozelandês dele, que eu não entendia quase nada e tinha vergonha de dizer. De Whistler e suas casinhas que parecem de boneca. De subir as escadas da escola e chegar cedo para ler meu jornal. Da cathedral. De gritar Go Canada na rua e ser correspondida por vários grupos de pessoas. De conversar no bus, seabus, skytrain. Do Metrotown. De comer sushi. Do pessoal da escola (dmitri, katherine, camila...). Dos bares. Daz luzes da Granville. De entrar no facebook escondido na future shop. De vencer o Dustin e o Thiago na sinuca e ainda ganhar drinks de graça. Do Malones e do Cambie. Do Aubar, em que sempre tocavam as mesmas músicas – pelo menos era funk. De encontrar as pessoas coincidentemente, principalmente o Breno. Das músicas da rádio e dos seriados da TV.
Das árvores, dos corvos, dos esquilos, de tudo.
I miss you, Vancouver. I hope to go back one day, maybe in the summer. I loved all the friends that I had and everything that I did. I don’t have any regret. Once time when we were walking together, Anthonie asked me what was the most excited thing that I’d done in my life. I said him that it was maybe going to Canada, in my own words. Now, I know that it’s not “maybe”. I’m sure that coming here alone was the most excited thing that I’ve done, more than everything. If I could choose, I would go to Vancouver again. Everything was like a movie or a beautiful picture and I’ll always remember. Especially the friends that I've made. If anybody wants to visit me in Brazil, they will be very welcome in my house. All of you has a little part of my heart. Thanks, everybody.
And...
GO CANADA GO!!!
PS: Sinto falta do Brasil, é claro. Família, amigos, Brasília, UnB. Agora sou monitora e coordenadora, fora os 24 créditos que pretendo pegar e mais o curso de Inglês e Francês. E a academia. É, it’s time to work hard.